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Bahia 1988

ESQUADRÃO IMORTAL – BAHIA 1988

 

Grandes feitos: Campeão Brasileiro (1988) e Campeão Baiano (1988).

Time base: Ronaldo (Sidmar); Zanata (Tarantini), João Marcelo, Pereira (Claudir / Newmar) e Paulo Róbson (Edinho); Paulo Rodrigues (Osmar), Gil, Zé Carlos e Bobô; Charles (Renato) e Marquinhos (Sandro). Técnico: Evaristo de Macedo.

 

 

 

                                        “O Brasil é teu, Bahêa!” 

 

   Quando o árbitro Dulcídio Wanderlei Boschilia apitou a final do Campeonato Brasileiro de 1988, disputada em 19 de fevereiro de 1989, todos os santos, orixás, artistas, cantores e milhões de torcedores tricolores podiam, enfim, comemorar. Depois de quase 30 anos, o Esporte Clube Bahia, soberano do Nordeste, era mais uma vez campeão nacional. E não foi somente um título brasileiro conquistado por aqueles jogadores vestidos em branco, vermelho e azul. A equipe baiana conquistou centenas de milhões de simpatizantes por todo Brasil, dos tricolores gremistas no sul, passando por paulistas até chegar à linda Salvador. Com um futebol envolvente, rápido e decisivo, o time tricolor fez história ao derrotar grandes forças não só no caldeirão da Fonte Nova, mas também fora dela. Ronaldo, João Marcelo, Paulo Róbson, Gil, Zé Carlos e, sobretudo, Bobô e Charles jogavam com amor ao Bahia, paixão pela vitória e amparados pelas rezas e apoio de fervorosos tricolores. Uma pena que depois daquele Bahia, jamais houve outro igual. É hora de relembrar os feitos daquele esquadrão.                                      

Ordem: conquistar o Brasil

Evaristo de Macedo

Evaristo de Macedo: técnico teve a “simples” missão de levar o Bahia ao título brasileiro de 1988.

Em 1988, o EC Bahia estava de tédio. Motivo? A equipe tricolor não tinha rivais à altura dentro de casa e era bicampeã estadual. Por isso, o presidente do clube, Paulo Maracajá, trouxe para aquela temporada o técnico Evaristo de Macedo, que tinha a missão de levar o clube ao título do Campeonato Brasileiro. O Campeonato Baiano nem sequer foi mencionado, pois era obrigação. Com praticamente a mesma base dos dois anos anteriores, o time tricolor era muito bom, e Macedo aproveitou essa herança para deixar a equipe ainda melhor com a incorporação de jovens das categorias de base. O zagueiro João Marcelo e o atacante Charles foram alguns dos talentos que seriam aproveitados pelo treinador. A dupla se juntou ao grupo que tinha o experiente lateral Zanata, o ponta Zé Carlos e o craque Bobô, maestro do meio de campo e principal nome tricolor. Por isso, o Campeonato Baiano seria apenas um torneio preparatório para o Brasileiro. E a torcida não queria saber mais de só um título regional, como bem disse Lourinho, líder de uma torcida organizada da equipe, para a revista Placar em janeiro de 1988:

 

“Quem aparecer na Fonte Nova tem de levar pau do Bahia! Pode ser qualquer um: Flamengo, Internacional, São Paulo…”.

Recado dado. Era hora de trabalhar.

 

No embalo do TRIelétrico!

 

 

O torneio estadual, claro, foi levado a sério pelo Bahia, que conquistou o tricampeonato consecutivo. A equipe venceu três das quatro fases do torneio e perdeu apenas um clássico para o Vitória (1 a 0). Nas outras partidas, empates em 0 a 0, 1 a 1 e 0 a 0 e vitórias por 1 a 0, 3 a 1, 4 a 0 e 3 a 0, este último o jogo que definiu o tricolor como campeão incontestável, com mais de 70 mil torcedores na Fonte Nova para ver os gols de Renato, Pereira e Osmar. O jogo terminou antes mesmo dos 45 minutos por conta de uma briga entre Tonhão, goleiro do Vitória, e Osmar, arisco atacante tricolor. De nada adiantaram as tentativas do Vitória para anular a partida, pois o Bahia foi mesmo tricampeão. O atacante Osmar, que sob o comando de Evaristo de Macedo melhorou muito nas finalizações, foi o artilheiro do torneio com 19 gols. A campanha da equipe foi maravilhosa: 37 jogos, 21 vitórias, 10 empates e seis derrotas, com 74 gols marcados e apenas 21 sofridos. No fim, festa da massa do Bahia e puro carnaval ao som do trio elétrico, ou melhor, do TRIelétrico!

Hora do dever

Depois do título estadual, o Bahia voltou todas as suas atenções para o Campeonato Brasileiro. Naquele ano, como consequência da briga envolvendo CBF e Clube dos 13 em 1987, o torneio foi mais compacto, com 24 times, algo fichinha perto dos mais de 30, 40 clubes que normalmente disputavam a competição. Seriam dois turnos com dois grupos cada que classificariam os oito melhores times para o mata-mata, que começaria apenas em janeiro de 1989. Uma curiosidade é que nas duas primeiras fases da disputa, as vitórias valeriam três pontos e partidas empatadas teriam cobranças de pênaltis, que renderiam pontos extras. No mata-mata, as vitórias voltariam a valer dois pontos. Coisas da “genial” organização (?) do futebol brasileiro…

Zé Carlos vibra: uma das estrelas do ataque tricolor.

O Bahia, mesmo embalado pelo tricampeonato estadual, não começou bem o Brasileiro. Nos primeiros oito jogos, foram apenas três vitórias – e todas em casa: 1 a 0 no Vitória, 1 a 0 no Flamengo e 2 a 0 no Atlético-PR. A equipe empatou com Bangu (1 a 1, em casa), Goiás (2 a 2, fora), Atlético-MG (1 a 1, fora) e Sport (1 a 1, em casa) e perdeu fora de casa para o Fluminense por 3 a 0. O time se reencontrou somente na 9ª rodada depois de uma atuação de gala contra o São Paulo, no Morumbi, quando se impôs e venceu por 2 a 0, gols de Bobô e Zé Carlos. No jogo seguinte, vitória por 1 a 0 em casa contra o Palmeiras, gol de Pereira. Àquela altura, o time de Evaristo de Macedo já mostrava muita segurança na defesa, sempre bem protegida com João Marcelo e Pereira, além dos suplentes Claudir e Newmar. No final do primeiro turno, o tricolor perdeu fora de casa para o Internacional por 3 a 0 (três gols de Nílson) e empatou em 0 a 0 com a Portuguesa em São Paulo. Terceiro colocado, o Bahia teria que lutar pela vaga na fase final no segundo turno.

Problemas e sorte de campeão

Bobô em ação: craque, elegante e preciso no meio de campo.

No segundo turno, o Bahia começou bem ao vencer o Cruzeiro em casa por 2 a 1. Mas aí vieram tropeços contra Vasco (0 a 0, fora), Guarani (0 a 0, fora) e uma inesperada derrota para o Botafogo em plena Fonte Nova por 1 a 0. O revés foi a gota d´agua para a torcida tricolor ficar furiosa e exigir um empenho maior do time. Renato, atacante titular da equipe, foi um dos mais criticados e foi sacado do time a pedido da torcida. Com isso, o jovem Charles ganhou a chance de mostrar seu valor. E como mostrou! No jogo seguinte do tricolor, em casa, contra o Corinthians de Ronaldo, Biro-Biro e Viola, o Bahia conseguiu uma suada vitória no segundo tempo graças justamente a Charles. Aos 29´, Pereira, sempre ele, abriu o placar. Aos 45´, Zé Carlos cruzou na área, Marquinhos ajeitou para Charles, que dominou com estilo e, sem deixar a bola cair, marcou um golaço: 2 a 0. O Bahia vencia o jogo, continuava na briga pela classificação e ainda tinha a grata revelação de uma promissora estrela.

Charles: o jovem atacante explodiu justo quando o Bahia mais precisava.

Na partida seguinte, o mesmo Charles fez o gol da vitória por 1 a 0 pra cima do Criciúma, em Santa Catarina. Ainda no Sul, o time perdeu para o Coritiba por 2 a 0, mas se recuperou ao golear o Santos de Sócrates, em casa, por 5 a 1, gols de Zé Carlos (2), Marquinhos, Charles e Cássio (contra). Novamente em casa, o time derrotou o Grêmio por 3 a 1 com autoridade, ótimo toque de bola e muita força ofensiva. No entanto, a equipe terminou o segundo turno do grupo B na quarta colocação e fora da zona de classificação, mas uma ajudinha carioca colocou o Bahia nas quartas de final, pois o Vasco, que já havia se garantido pela campanha do primeiro turno, ficou outra vez na primeira posição. Com isso, os alvinegros acabaram abrindo uma vaga para o Bahia, que tinha o maior total de pontos ganhos entre os não classificados. Os orixás estavam trabalhando…

Imbatíveis da Fonte Nova

Nas quartas de final, o tricolor encarou o Sport e empatou os dois jogos: 1 a 1 e 0 a 0, se classificando para a semifinal por ter melhor campanha. Nela, a equipe teria um duro teste: o Fluminense, mesmo time que havia goleado o Bahia no primeiro turno. No primeiro jogo, no Maracanã, o Bahia foi valente e segurou o empate em 0 a 0, com seu sistema defensivo funcionando perfeitamente. Na volta, a Fonte Nova recebeu seu maior público de todos os tempos: 110.438 pessoas. A festa foi gigantesca e a fanática torcida tinha a certeza que veria seu esquadrão em uma final nacional. No entanto, foi o Fluminense quem abriu o placar logo aos dois minutos com Washington. O gol não abalou a nação tricolor, que seguiu apoiando seu time. Aos 20´, Bobô aproveitou um cruzamento da direita e testou firme: 1 a 1. O carnaval voltava a Fonte Nova! No segundo tempo, muita tensão, até que Gil aproveita a bola rebatida na área do Flu e vira o jogo: 2 a 1. A torcida foi à loucura e alguns mais extasiados chegaram a  invadir o gramado.

Bahia e Flu em 1988: recorde de público na antiga Fonte Nova.

Depois de uma breve interrupção, o jogo recomeçou e o Bahia seguiu todo no ataque, mas perdeu muitos gols. No fim, o placar ficou mesmo em 2 a 1 e o tricolor da boa terra estava de volta a uma decisão nacional. Era a chance de conquistar o Brasil. E de vingar outra derrota da primeira fase.

 

 

Bobô: decisivo contra o Flu e, mais tarde, contra o Inter.

Quem é a zebra?

Bobô vence Taffarel e o jogo: 2 a 1.

Na grande final do Brasileiro de 1988 (disputada em 1989), o Bahia enfrentou o Internacional de Taffarel, Luiz Carlos Winck e do artilheiro Nílson. Era o mesmo Inter que havia feito 3 a 0 no tricolor lá na primeira fase do torneio. Assim como no jogo contra o Flu, o Bahia queria a vingança. Mas não seria nada fácil, afinal, o colorado havia eliminado na semifinal o seu grande rival, o Grêmio, no chamado “Grenal do Século”, e vinha embalado. A imprensa tratava os gaúchos como francos favoritos, ainda mais pelo fato de o Inter ter a vantagem de dois empates para levar o tetra. Mas o Bahia não se importou com o oba-oba dos secadores e ficou na dele. No primeiro jogo, na Fonte Nova, mais de 90 mil pessoas fizeram uma linda festa naquele dia 15 de fevereiro de 1989. Mandinga, candomblé, tudo foi feito para garantir a vitória tricolor naquele jogo. Mas, como na semifinal, o jogo foi dramático. O Inter abriu o placar aos 19´com Leomir. A torcida ficou assustada de novo, mas o Bahia tinha Bobô. Zé Carlos, sempre pela direita, cruzou na cabeça do craque, que marcou o gol de empate. Na segunda etapa, o mesmo Bobô aproveitou a confusão na área colorada e estufou as redes gaúchas: 2 a 1. De novo, de virada! Bobô seguiu infernal e ainda provocou a expulsão do zagueiro Nenê. A vantagem, que antes era gaúcha, agora era do Bahia. Um simples empate no Beira Rio dava o inédito título do Campeonato Brasileiro ao tricolor e, claro, o segundo caneco nacional. Era hora de fazer história.

 

 

O Bahia campeão brasileiro: Marquinhos e Charles davam velocidade ao ataque, Bobô era o homem da articulação e Zé Carlos infernizava pela direita. Lá atrás, muita segurança e pouquíssimos gols sofridos. Fórmula de campeão.

 

Extras:

Prazer, Charles

Ele era um desconhecido. Até esse jogo contra o Corinthians…

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